PERGUNTAS E RESPOSTAS
COM ALEXANDRE BARILLARI


NOVA SERRANA, MG
03 À 05 DE AGOSTO DE 2010 - ANO 5 – Nº 278

JONATHAS WAGNER
FOTOS: ISRAEL  SILVEIRA

Nesta semana o Popular traz como entrevistado o ator Alexandre Barillari, que veio à cidade acompanhando o circo do também ator Marcos Frota. Ex-global, atualmente contratado pela TV Record, Alexandre teve como ponto alto de sua carreira e ficou conhecido do grande público quando interpretou o desajustado Guto, em Alma Gêmea, que aterrorizou a vida da personagem de Flávia Alessandra, Cristina, tanto em vida como depois de morto. Como ele mesmo disse a este Popular, a sua participação no circo do Marcos Frota não difere muito de todas as outras atribuições do ator. Por isso é que o ator também não hierarquiza os meios que escolhe para desenvolver o seu trabalho. Extremamente bem humorado e simpático Alexandre declarou à reportagem: “Gosto de televisão, teatro e cinema da mesma maneira”. Veja abaixo a entrevista.

O Popular — Qual a origem do seu nome: é artístico ou familiar?
Alexandre
— É de família mesmo. É de origem  Italiana. Mais especificamente da Sicília.

O Popular – Alexandre, você acha que um dos aspectos mais interessantes desse projeto do Marcos Frota seja esse comprometimento com a popularização da arte como um todo, mas mais especificamente com o teatro e o circo, que têm a mesma essência?
Alexandre
— Não concordo muito que tenham a mesma essência. São duas escolas diferentes. Uma nasceu na Grécia e outra na China. Inclusive o circo demorou para ser visto como uma
manifestação artística. Era antes encarada como habilidades voltadas para a guerra.


O Popular — Bom, na verdade eu me expressei mal. Ao contrário de essência, a minha pergunta trata mais da conseqüência: da função que têm ambos nos dias de hoje. E me parece que esta é uma grande preocupação do Marcos Frota. Você se inseriu nesse projeto por questões profissionais ou ideológicas?
Alexandre
— Eu não pensaria no que surgiu primeiro. Você pode ser motivado por um primeiro chamado. Seja ele profissional ou ideológico e acabar desenvolvendo uma grande paixão pelo trabalho.  Isso surgiu porque o Marcos percebeu que o picadeiro é um espaço capaz de receber várias manifestações artísticas. Como o circo já foi um dia. Recebendo grandes peças, música, dança. Então, quando eu fazia uma novela chamada ‘Salsa e Merengue’ ele me chamou para levar um pouco dessas danças para o picadeiro e eu topei. Funcionou bastante, porque nós, os brasileiros, somos um povo muito musical e cheio de ritmo. Então, de lá pra cá nós optamos por inserir em cada espetáculo o ritmo correspondente ou que mais se identifique com o local onde estamos.  Por exemplo, se estivermos no Mato Grosso, a gente dança o rasqueado,  no Rio um funk,  em Minas um forró. E por aí vai.

O Popular — No seu caso, quando você está lá no palco, dançando, o que predomina: o ator ou o personagem?
Alexandre
— Eu não acredito em nenhum casamento que seja que (profissional ou por amor), ou qualquer parceria, que não seja por prazer. Esta minha relação com o circo já dura 14 anos. Então, a própria longevidade de nossa história, minha com o circo e com o Marcos Frota, já responde a sua pergunta. E em relação a estar no picadeiro, eu entendo o palco, o picadeiro a encenação, o meu ofício, como uma espécie de incorporação. De maneira que os problemas deixam de existir. O picadeiro, o palco, a encenação do ator, funcionam quase que como uma meditação. Ali você está em função de um personagem. E é claro que como eu escolhi isto para ser a minha profissão, se
não houver prazer também não adianta.


O Popular — E como você constrói os seus personagens? Qual a linha ou escola de atuação você usa para atuar?
Alexandre
— Essa é uma discussão e uma pergunta que eu já fiz a mim mesmo. E cheguei à conclusão que a melhor maneira de se atuar é seguir a escola do coração. Não estabelecer uma
regra para a construção deste ou daquele personagem, mas buscar a verdade dele seja de
qual forma for. É lógico que eu, como ator, já me utilizei de diversas técnicas, estabelecidas por diversas escolas, mas na essência o que acaba predominando é a sua verdade como ator. Nessa  linha de pensamento, se a gente fosse rotular perguntaríamos: qual foi a escola de Paulo Autran? Qual a escola de Fernanda Montenegro? Quando eu criei o meu personagem Guto, em Alma Gêmea, eu tive que lançar mão de alguns artifícios de criação. Porque eu estava entrando em um território que não fazia parte da minha história, da minha realidade. Tratava-se de um psicopata, de um assassino. Neste caso eu me propus a ficar por três dias dentro do presídio Ari Franco para poder entender como pensava ou se manifestava socialmente uma pessoa com aquelas características e poder atingir tudo o que esperava do meu personagem.


O Popular — Falando em Guto, o personagem morre e ressurge em forma de espírito, para atazanar a vida da Cristina, personagem de Flávia Alessandra. Isso nos remete ao discurso de vida após a morte e reencarnação. Você acredita nisso?
Alexandre
— Totalmente. Acredito em reencarnação. Inclusive a igreja Católica acreditou nisso durante muito tempo. As pessoas hoje dizem. Ah, ta, mas não existe isso para os católicos. Não existe mais, mas antes existia. Assim como muitas coisas que hoje a igreja critica e que no seu passado recente defendia. É sempre aquela coisa. As pessoas não se contentam com as suas verdades; querem impor as suas verdades aos outros. Que cada um cuide de suas verdades e suas crenças; suas limitações e certezas. Isso contribuiria sobremaneira para um mundo melhor de se viver.


O Popular — Teatro, TV ou cinema: o que te dá mais prazer?
Alexandre
— Volto à questão da escola usada para atuar. A verdade está presente em todos os lugares. Não será o processo ou a mídia que se utiliza para desenvolver um trabalho é que vai definir a qualidade deste mesmo trabalho. Todas me completam da mesma maneira. Não se altera em nada. Essa é uma visão pessoal minha. Eu não superestimo o teatro como uma arte maior do que a televisão. Acho que fazer televisão com verdade é dificílimo. Em alguns casos talvez até mais difícil. Minha única preferência é por grandes personagens que motivem essa minha verdade. Seja em qual  mídia ou processo for.


O Popular — Um grande ator?
Alexandre — Se estrangeiro Laurence Olivier. Se brasileiro, Paulo Autran. Ambos pela sua dedicação e conhecimento de Shakespeare.


O Popular — Uma grande atriz?
Alexandre
— Laura Cardoso.


O Popular — Uma atriz da nova geração?
Alexandre — Talvez nem seja assim da nova geração, mas alguém que eu gosto muito e foi uma maravilhosa parceira de cena, Flávia Alessandra.


O Popular — E ator da nova geração?
Alexandre — Nossa. Essa é mais difícil. São tantos bons novos  atores que aí estão. Tem o Mateus Solano, o Daniel Oliveira...


O Popular — Um recado para os leitores do Popular.
Alexandre
— Eu gostaria de dizer às pessoas que eventualmente ficam um pouco cabisbaixas ou desanimadas com a vida, que acreditem que a essência dessa nossa vida é indestrutivel- mente poderosa e alegre.


 

 

www.alexandrebarillari.com.br por Luciana Basile

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