Reflexo de mim

O ator Alexandre Barillari, arquiteto por formação, idealizou um apartamento de sonho. Entre transparências e pretos absolutos, fez seu lugar no mundo

Taís Lambert   -   Edição nº 4 - junho/2008

São nove cômodos, nove maneiras de se refletir dentro de casa. Alexandre Barillari tem gostos cíclicos, que vêm e vão, e retornam ainda mais inovadores. "Sou volúvel e eclético em meus desejos arquitetônicos, poucas coisas na vida são mais torturantes que a mesmice", ele diz. Para ampliar o espaço relativamente pequeno, usou vidros,elementos vazados e espelhos à trompe l'oeil que "enganam a vista", além de divertir. A sala de jantar é seu canto preferido: é ali que estão itens que lhe são extremamente caros pela beleza e pelo significado. A mesa tem tampo de cristal espelhado e é projeto seu. As cadeiras são de Aristeu Lima, que Alexandre mandou recobrir com o mesmo material da porta de entrada: laca high gloss black piano. Essa porta, aliás, é outra ode à originalidade. De 3 metros de altura, ela compreende o espaço que vai do chão ao teto, sem o usual pedaço de alvenaria que conectaria teto e porta. Uma seqüência de espelhos defronte complementa a obra no mais puro preceito do Feng Shui. Na sala e no quarto o ator apelou (mesmo) para o inusitado: todas as janelas são blindadas acusticamente. “Trata-se de um conjunto de três vidros de 6 milímetros cujo recheio é uma lâmina que impede a propagação do som. “Quando as fecho, sinto uma estanquidade: resolveu meu problema de insônia, de acordar com ruídos”, revela.
Bom, já que é para facilitar e melhorar a qualidade de vida, ele também investiu na iluminação. Muito. Alexandre controla a luz por um controle remoto via rádio: as lâmpadas são acionadas como numa mesa de teatro. “Se eu estiver vindo da praia e quiser uma iluminação dramática qualquer, é só acionar isto no meu controle antes mesmo de chegar em casa”. Só no teto da sala são 37 microlâmpadas e 252 possibilidades de “cenas”. É desse controle que ele também aciona todos os outros equipamentos eletrônicos da casa. “Quando vejo a tecnologia ao meu alcance, me sinto seduzido. Não acho indispensável, mas se traz bem-estar e é possível adquiri-la, é um bom investimento. Não preciso sair da cama para fazer um monte de coisas!”, brinca. O banheiro é visualmente integrado ao quarto por um “pano de vidro”.


O apartamento é de frente para o mar, e Alexandre idealizou o banheiro com transparência, de forma que fosse possível ter essa vista enquanto toma banho. “Tenho ligações metafísicas com a água. Como não gosto de banheira, fiz melhor: uma grande sala de banho, com três duchas de teto e seis duchas de hidromassagem na parede. O piso é de Thassusglass, um mármore grego sem veios, com uma camada vitrificada por cima. Quando abro os chuveiros e aciono a luz azul, parece um parque aquático”. Para fechar com chave de ouro, Barillari imprimiu sua marca na fechadura da porta. Literalmente. Ela tem abertura biométrica: por impressão digital. Com gerenciamento de acesso, programa quais pessoas poderão entrar em casa e até os horários. “Posso programar 99 digitais, por ora tenho três: a minha, a do meu pai e da minha funcionária!” O lar reflete o que somos. Nossos sentimentos, desejos e gostos estão impregnados em cada cor que propomos. Perguntei a ele qual adjetivo ele usaria para descrever o morador caso ele entrasse nesse apartamento como se não fosse dele. A resposta: “Cartesiano. Um chato de olhar insuportável, obsessivo, cismado com minúcias”. No dia desta entrevista ele estava mandando refazer as portas do armário da cozinha pela quarta vez. Um cartesiano de extremo bom gosto.

 

www.alexandrebarillari.com.br por Luciana Basile

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